Prefácio
Aram Saroyan[1]
Jack Kerouac era o belo ás do futebol americano em Lowell, Massachusetts, que fez um touchdown e chamou a atenção de Lou Little, o famoso técnico da Columbia University, que lhe ofereceu uma bolsa para que jogasse em sua universidade.
Kerouac vinha de uma família franco-canadense do proletariado – seu pai era tipógrafo –, e a viagem de Lowell a Morningside Heights marcou uma nova fase em sua vida. Um dia o típico garoto americano, que logo se desentendeu com Little, estava sentado no West End Bar de frente para o colega universitário Allen Ginsberg, recém-saído de Nova Jersey, e os dois, acompanhados por William Burroughs, um pouco mais velho e formado em Harvard, posaram para a mesma fotografia – “agindo”, segundo o relato de Ginsberg, “como se fôssemos Devassos Internacionais como nos livros de Gide”.
Surge então Neal Cassady, o motorista lendário, o famoso “garanhão e Adônis de Denver”, que chegou a Nova York com a namorada Luanne determinado a aprender tudo sobre escrever com Allen, Jack e Bill, em troca do que lhes contaria tudo sobre sua vida no Oeste, e a Geração Beat estava pronta para estourar. Na verdade, Kerouac escreveu On the Road nos primeiros anos após a chegada de Neal, mas levou outros sete para conseguir publicar o livro, e foram estes os anos que viram o escritor, com uma pasta de manuscritos cada vez mais pesada, como o verdadeiro nômade literário da época. Então, quando On the Road foi publicado em 1957 e fez a fama de Kerouac, a pasta foi aberta de vez e todos os livros foram publicados um atrás do outro.
Tristessa, talvez a sutil homenagem de Kerouac a Bom dia, tristeza (que fez a fama de Françoise Sagan da noite para o dia em 1955), trata de seu relacionamento com uma prostituta na Cidade do México e saiu em formato brochura pela Avon. Visões de Cody é um segundo olhar sobre o herói de On the Road, desta vez incorporando conversas entre Jack e Neal gravadas em fita (no mínimo uma década antes da técnica à la Warhol e da “biografia oral”).
Em Big Sur temos as tristes porém grandiosas consequências: o “Rei dos Beatniks” atravessa o país na cabine de um pullman para mais uma farra com os garotos e as garotas antes de voltar para o estúdio, a garrafa e a máquina de escrever, e então, em 1969, por causa de uma hemorragia severa causada pela bebida, encontra a morte. Ele tinha 47 anos.
Jack Kerouac foi o herói americano modelo que ousou ter uma série de longas e ternas crises nervosas na prosa dos livros que escreveu. Os melhores momentos de sua obra trouxeram um pouco dos prazeres luminosos dos impressionistas franceses para a literatura americana, e um pouco também do sombrio mecanismo sintático de Proust. Acima de tudo, Kerouac foi um escritor terno. Seria difícil encontrar uma palavra mal-intencionada a respeito de qualquer pessoa em toda a sua obra.